Inscrever a Dança

Imagem: desenho de Trisha Brown

 

Texto de André Lepecki, Inscrever a Dança, traduzido e comentado por Sérgio Andrade e Lidia Larangeira (GP LabCrítica), publicado pela Revista Vazantes – UFC, v. 1, n.1, 2017.

 

APRESENTAÇÃO DA TRADUÇÃO

 

Sérgio Andrade e Lidia Larangeira

 

A tradução do texto Inscrever a Dança, no original “Inscribing Dance” (2004), de André Lepecki, foi realizada primeiramente para contribuir com as reflexões propostas dentro das disciplinas de Fundamentos da Coreografia que ministramos nos cursos de dança da UFRJ, onde questões sobre coreografia, composição e processos de escrita em dança foram pensadas dentro de um contexto educacional. Esse impulso inicial colaborou também com nossas pesquisas em andamento, quando identificamos a necessidade de traduzir importantes materiais teóricos para estudos contemporâneos de dança e de performance, como é o caso da contribuição que Lepecki faz em Inscrever a Dança, ensaio que antecedeu a publicação de Exhausting Dance (2006) – uma das principais obras literárias do autor.

Em Inscrever a Dança, Lepecki traça relações complexas entre composição, teorização e processo de criação, corpo e texto, movimento e linguagem, feminilidade e efemeridade, escritura, tempo e materialidade. O texto marca ainda uma contribuição singular para o trânsito entre Dança e Performance, apresentando pistas que excedem aos tradicionais estudos formalistas e estéticos nas artes, fazendo emergir questões caras aos estudos contemporâneos da área.

Para tensionar os limites ético-políticos que uma tradução engendra (como os problemas de teletransporte/transmissão, de fidelidade/traição e de original/cópia), nesta versão de Inscrever a Dança adicionamos alguns comentários (as N. dos T.) que imprimem novas interrupções no texto, ora buscando mediar o diálogo entre as proposições de Lepecki e outros autores, ora revisando referências e indicando rotas suplementares de leitura. Em especial, os comentários que tratam dos encontros teóricos entre André Lepecki e as heranças de John Langshaw Austin, Jacques Derrida e Karl Marx são desdobramentos da pesquisa de Sérgio Andrade, que transita entre filosofia, dança e performance. A emergência desses comentários remodela as discussões em debate no/pelo exercício da tradução, ao passo em que, enxertando novas camadas de leitura, sublinham a tradução como uma radical passagem ao outro. A performatividade desse gesto de traduzir alterando, de repetir com alteração, a própria iterabilidade, é também um dos temas caros que acompanha o pensamento desenvolvido por André Lepecki, como veremos a seguir.

Registramos nosso caloroso agradecimento ao autor que, generosamente, permitiu e revisou esta tradução.