Residência teórica de Cristina Fernandes Rosa (University of Reohampton, UK) no Laboratório de Crítica, dias 7 a 12 de novembro, durante a programação do seminário internacional Trans-In-Corporados: construindo redes para internacionalização da pesquisa em dança, no Museu de Arte do Rio. Na ocasião, Rosa participará de debates e apresentará a palestra de encerramento do evento HERANÇAS E DIÁSPORAS AFRO-AMERÍNDIAS NOS ESTUDOS DE DANÇAS BRASILEIRAS NOS EUA E NA EUROPA: FLUXOS E REFLUXOS.
HERANÇAS E DIÁSPORAS AFRO-AMERÍNDIAS NOS ESTUDOS DE DANÇAS BRASILEIRAS NOS EUA E NA EUROPA: FLUXOS E REFLUXOS | AFRO-AMERINDIAN HERITAGE AND DIASPORAS OF BRAZILIAN DANCE STUDIES IN THE US AND EUROPE: EBBS AND FLOWS
Profa. Dra. Cristina Fernandes Rosa
Professora do Dance Department, University of Roehampton, Reino Unido
Resumo
Nesta palestra Rosa questiona o lugar que a produção cultural Brasileira ocupa no exterior, dentro do contexto da dança. Na primeira parte, Rosa traça um breve panorama histórico da dança na Europa e nos Estados Unidos no século XX, tanto quanto forma artística como disciplina acadêmica. De um lado, ela propõe, a dança tem rompido varias barreiras, desde da expansão das formas de dançar e de coreografar (muito além do balé clássico e de suas narrativas românticas) até o seu entendimento como um campo de produção de conhecimento (além de ser objeto de estudo ou de consumo). Apesar desses avanços, Rosa afirma que, por outro lado, tanto o mundo acadêmico quanto o artístico do Norte Global não se desatrelou completamente do arcabouço eurocêntrico estabelecido na era colonial e aperfeiçoado durante o Imperialismos Britânico e Norte Americano. Ou seja, a dança desenvolveu-se ao longo do século XX a partir de uma linha abissal moderna (Sousa Santos 2007) que gerou dois arquivos diferenciados. Segundo Marta Savigliano (2011), o chamado Arquivo Dança-Arte tem se dedicado largamente a colecionar produções que foram criadas ou que ganham visibilidade dentro do Norte Global, em sua maioria aliadas a uma ótica ou estética eurocêntrica (clássica, moderna, pós-moderna, ou contemporânea). Em contrapartida, todos os outros tipos e formas de dançar que existem pelo mundo afora tem sido historicamente colecionado dentro do Arquivo Dança-Antropologia. Enquanto o primeiro é organizado a partir da inovação artística de obras autorais e de suas relevâncias estéticas, o segundo agrupa formas a partir da relevância social e da autenticidade de suas praticas e processos de caráter coletivo. Aqui estão a dança étnica, folclórica, e mais recentemente, o que se denomina nos Estados Unidos de “World Dance”. Na segunda parte, Rosa discute as implicações desse cenário descrito acima para o reconhecimento e circulação das danças produzidas no Brasil, um pais onde as elites tem sustentado tendências eurocêntricas apesar da maioria da população se identificar como Afrodescendente. Como se pode imaginar, as danças conectadas `as matrizes africanas e Ameríndias no Brasil foram historicamente catalogadas no exterior quase que exclusivamente dentro do Arquivo Dança-Antropologia. Sendo assim, a valorização artística dessas formas, e de seus criadores, tem sido minimizada ou desprezadas. Mais adiante, Rosa aponta para os questionamentos que começaram a acontecer a partir do surgimento dos estudos críticos de dança ao final do século XX, tanto no Brasil como lá fora, e das transformações a partir da infiltração de artistas e acadêmicos de varias partes do mundo (e de formações artístico-culturais diversas) dentro do hermético Arquivo Dança-Arte. Em particular, Rosa cita exemplos de pioneiros nacionais e internacionais, e outros mais recentes, cujos trabalhos permeiam ou trazes nova luz sobre a relevância da estética Afro-Brasileira e seus produtores de conhecimento artístico. Em sua conclusão, Rosa nomeia alguns pontos que ainda estão por ser alcançado e indica novos roteiros a serem traçados para que se complete o reconhecimento de variados tipos de danças Brasileiras em terras estrangeiras.
Palavras-chave: estética afrobrasileira, herança afroameríndia, diáspora, ecologia dos saberes, decolonialidade.
Abstract
In this lecture Rosa questions the place that Brazilian cultural production occupies abroad, within the context of dance. In the first part, Rosa traces a brief historical overview of dance in Europe and the United States in the twentieth century, both as an artistic form and as an academic discipline. On the one hand, she proposes, dance has broken down several barriers, ranging from the expansion of way of dancing and choreographing (far beyond the classical ballet and its romantic narratives) to its understanding as a field of knowledge production (beyond an object of study or consumption). On the other hand, Rosa affirms that, despite these advances, both the academic and the artistic world of the Global North haven’t completely de-linked from the Eurocentric framework established in the colonial era and perfected during the British and North American Imperialisms. That is, dance developed throughout the 20th century from a modern abyssal line (Sousa Santos 2007) that generated two different files. According to Marta Savigliano (2011), the so-called Dance-Art Archive has been largely devoted to collecting productions that were created or that gained visibility within the Global North, mostly allied to a Eurocentric viewpoint or aesthetic (classical, modern, postmodern, or contemporary). In contrast, all other types and forms of dance that exist around the world have been historically collected within the Dance-Anthropology Archive. While the former is organized around the artistic innovation of authorial works and their aesthetic relevance, the latter groups forms around the social relevance and the authenticity of their collective practices and processes. Here are so-called “primitive”, ethnic, folk, and more recently, what has been called “World Dance” in the United States. In the second part, Rosa discusses the implications of this scenario described above to the recognition and circulation of dances produced in Brazil, a country where elites have supported Eurocentric tendencies despite the majority of the population identifying themselves as African descendants. As one might suspect, the dances connected to the African and Amerindian heritages in Brazil were historically catalogued abroad almost exclusively within the Dance-Anthropology Archive. Thus, the artistic valorisation of these forms, and their creators, has been minimized or despised. Later on, Rosa points to the questions that began to emerge from the dawn of critical dance studies at the end of the twentieth century, both in Brazil and abroad, and the transformations from the infiltration of artists and scholars from various parts of the world (and diverse artistic-cultural formations) within the hermetic Dance-Art Archive. In particular, Rosa cites examples of national and international pioneers, and more recent ones, whose works permeate or shed new light on the relevance of Afro-Brazilian aesthetics and their producers of artistic knowledge. In her conclusion, Rosa names a few points that are still to be reached and indicates new routes to be traced in order to complete the recognition of various types of Brazilian dances in foreign lands.
Keywords: Afro-Brazilian aesthetics, Afro-Ameridian heritage, diaspora, ecology of knowledge, decoloniality.
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Sobre a pesquisadora