Identidade e representação: máscaras cotidianas

Identidade. O que significa ter uma identidade? Será que temos apenas uma identidade? Como somos reconhecidos pelos nossos pares e pelo mundo externo? O que significa ser reconhecido?

O espetáculo Singspiele tem como sua linha narrativa a identidade. Encontramos no palco um performer que se transforma em diferentes pessoas através de máscaras e mudanças de figurino que acontecem quase ininterruptamente durante todo o percurso do espetáculo.

O que nos é apresentado é uma nova forma de questionar a identidade. Um dos grandes assuntos relevantes na pós-modernidade é exatamente o estudo da identidade. Durante a época feudal e até a Revolução Industrial, o homem nascia com uma identidade e a ela estava ligado até a sua morte. Nessa época, a identidade estava muito ligada à posição social ocupada pelo indivíduo. Quem nascia nobre morreria nobre, quem nascia escravo, morria escravo.

Mas, com a Revolução Industrial e as mudanças em nossa sociedade, os lugares sociais foram se tornando cada vez mais maleáveis. Dentro de nossa realidade atual, casos de pessoas que nascem em total pobreza e conseguem superar as adversidades se tornam mais comuns. A possibilidade de mudança de posição social é uma realidade nos dias de hoje. Mas essa não é a única “identidade” à qual estamos atrelados e que podemos transformar. Devido a estudos e a maior possibilidade de liberdade de expressão nos dias de hoje, podemos questionar nossas diferentes identidades e assumi-las mais fortemente dependendo da situação social na qual nos encontramos. Muitas vezes, em certa situação, nossa identidade sexual se torna mais relevante que nossa identidade racial. Ou a identificação com um estilo de vida revela mais de um indivíduo, em um determinado grupo de pessoas, do que sua posição social.

Enfim, a nossa identidade é múltipla e fluida. Na atualidade, podemos assumir diferentes identidades e isso não nos torna pessoas desconexas.

Singspiele, para mim, é uma leitura dessa teoria pós-moderna. Podemos pensar que o corpo do bailarino, nesse caso, possui uma identidade, percebemos que seu corpo é masculino e caucasiano. Porém, a cada mudança de “máscara”, a cada roupa trocada, ele consegue assumir uma identidade diferente, muitas vezes como um completo oposto daquele corpo que vimos antes. A cada troca de identidade nos surpreendemos, algumas vezes nos aparecem figuras conhecidas, outras, indivíduos que nos parecem completamente anônimos. Porém, conhecendo ou não aqueles indivíduos, agregamos a eles algum sentido, algum significado, uma identidade que imaginamos.

O espetáculo nos ajuda a questionar a identidade que vestimos diariamente, nos leva a pensar no papel que assumimos ou queremos assumir perante os outros. Afinal, a construção das nossas identidades também se dá por máscaras que criamos diariamente diante dos outros indivíduos.