Ivani Santana | GP Poéticas Tecnológicas | Permanecidades e Reentrâncias | Setembro a Novembro 2017

Residência artística e teórica de Ivani Santana no Laboratório de Crítica para participação na programação do seminário internacional Trans-In-Corporados: construindo redes para internacionalização da pesquisa em dança, dias 10 e 11 de novembro, no Museu de Arte do Rio. Santana apresenta dois trabalhos no evento: a palestra de abertura FI(N)CA NO CORPO. “PERMANECIDADE”. REFLETIR SOBRE MEMÓRIAS E RESISTÊNCIAS; e a obra de site specific/ ocupação urbana REENTRÂNCIAS, realizada com seu Grupo de Pesquisa Poéticas Tecnológicas: Corpoaudiovisual.

Para realização da obra no Rio de Janeiro, o GP Poéticas Tecnológicas esteve trabalhando remotamente (via internet) com o Núcleo de Pesquisa, Estudos e Encontros de Dança, projeto coordenado pela Profa. Lidia Larangeira (LabCrítica), durante os meses de setembro e outubro.

 

 

FI(N)CA NO CORPO. “PERMANECIDADE”. REFLETIR SOBRE MEMÓRIAS E RESISTENCIAS | “PENETRATE-CITYNESS.” IT PENETRATES AND REMAINS IN THE BODY. REFLECTING ON MEMORIES AND RESISTANCES.

  

Dra. Ivani Santana

Vice-coordenadora do Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas | Professora do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos | Grupo de Pesquisa Poéticas Tecnológicas | Universidade Federal da Bahia | Brasil

 

Resumo

O corpo é, em si mesmo, um arquivo vivo que nos permite encontrar memórias, marcas de resistência de um organismo corporificado (embodied), engajado (embeddedness) e estendido em sua cognição (extended mind), a qual é fruto de um processo em que o corpo é indissociável de sua mente e a percepção está atrelada a sua própria ação (enaction). Somos organismos dinâmicos constantemente redescobrindo nosso mundo e a nós mesmos. Meus estudos, análises e reflexões da dança são abrigados e alicerçados por esta compreensão: a de um corpo situado (pelo viés da Situated Cognition). Por isso fica e finca no corpo as informações com as quais lida em seu ambiente. A discussão estará delimitada no campo que defino como “dança expandida”, a qual se utiliza da mediação tecnológica para ampliar suas possibilidades corporais, artísticas, estética e, como será argumentado, também conceituais. Interessa discutir a cultura digital, o mundo contemporâneo, a sociedade da informação, faces de um contexto pelo qual emergiu a dança expandida. Memória, resistência e permanência serão abordadas tanto pela análise do corpo do artista, como do corpo da cidade. Tais contextos são entrelaçados e contaminam-se mutuamente num fluxo ininterrupto. Nesse sentido, a proposta é compreender que essa dança expandida é tanto reflexo dessa cultura digital, como também uma “estranha ferramenta” (conforme afirma o filósofo Alva Noë sobre o potencial das Artes) que pode estimular uma outra forma de perceber, agir e compreender o mundo que nos rodeia. Duas obras serão apresentadas para discutir essa relação do organismo-corpo com o organismo-cidade: o projeto Gretas do Tempo, realizado em 2014 com o Balé Teatro Casto Alves, e Reentrâncias (2017). Permanecidade é um neologismo para argumentar sobre o direito de viver nossa urbis, ocupá-la sem limites, resistir aos problemas de violência, insegurança e caos contemporâneo. Esses posicionamentos estão na base da concepção das obras artísticas em questão, as quais, através da dança expandida propõem uma ocupação urbana e não uma intervenção cujo sinônimo poderia ser interferência, interposição ou intromissão. Permanecidade é uma possibilidade de reencontrar a urbis e não de interferi-la. Por fim, o potencial das novas tecnologias como dispositivos positivos e agregadores será pontuado para tratar dos termos principais dessa reflexão, a saber: corpo, memória, resistência, permanência e cidade.

Palavras-chave: memória, mediação tecnológica, corpo.

 

Abstract

The body is, itself, a living archive that allows us to find memories, marks of resistance of an organism which is embodied, embeddedness and has an extended mind. This organism is a result of a process in which the body is inseparable from its mind and the perception is linked to its own action (enaction). We are dynamic organisms constantly rediscovering our world and ourselves. My studies, analyzes and reflections of the dance are sheltered and grounded by this understanding: that of a situated body (by the bias of the Situated Cognition). We are dynamic organisms constantly rediscovering our world and ourselves. My studies, analyzes and reflections of the dance are sheltered and grounded by this understanding: that of a situated body (by the bias of the Situated Cognition). That’s why the information with which you deal in your environment penetrates and remains in the body. The discussion will be delimited in the field I define as “expanded dance”, which uses technological mediation to expand its corporal, artistic, aesthetic and, as will be argued, conceptual possibilities. It is interesting to discuss the digital culture, the contemporary world, the information society, which are the faces of a context through which emerged the expanded dance. Memory, endurance and permanence will be approached as much by the analysis of the body of the artist as of the body of the city. Such contexts are intertwined and contaminate each other in an uninterrupted flow. In this sense, the proposal is to understand that this expanded dance is a reflection of this digital culture as well as a “strange tool” (as the philosopher Alva Noë says about the potential of the Arts) that can stimulate another way of perceiving, acting and understanding the world around us. Two works will be presented to discuss this body-organism relationship with the city-organism: the Gretas do Tempo (Gaps of Time) project, held in 2014 with the Ballet Teatro Castro Alves, and Reentrâncias (2017). “Penetrate-cityness” is a neologism to argue about the right to live our town, to occupy it without limits, to resist the problems of violence, insecurity and contemporary chaos. These positions are at the basis of the conception of the artistic works in question, which through expanded dance propose an urban occupation and not an intervention whose synonym could be interference, interposition or intrusion. “Penetrate-cityness” is a possibility of rediscovering the city and not interfering with it. Finally, the potential of new technologies as positive devices and aggregators will be punctuated to deal with the main terms of this reflection, namely: body, memory, resistance, permanence and city.

Keywords: memory, technological mediation, body.

 

REENTRÂNCIAS

Reentrâncias, GP Poéticas Tecnológicas: Corpoaudiovisual © Foto divulgação

 

GP Poéticas Tecnológicas: Corpoaudiovisual

Salvador, Brasil

 

Reentrâncias propõe ao público caminhar pela cidade e re-significá-la através das imagens de videodança e sonoridades disponibilizadas em cada ponto indicado pelo percurso. A inspiração para esse projeto surgiu ao observar as pessoas que transitam pelas ruas convivendo com toda a materialidade que as cercam, ao mesmo tempo que mergulham no mundo virtual das redes sociais e aplicativos. Tendo em mente o processo de mise en abyme, conceito cunhado pelo francês Andre Gide (Nobel de Literatura) para designar uma narrativa em abismo, como na ideia do filme dentro do filme, o sonho dentro do sonho, ou a imagem da imagem da sala de espelho, Reentrâncias ocorre dentre de uma outra obra, o Trilhas Poéticas; ela aborda a cidade colocando o público para transitar por suas ruas, praças e paisagens; ela brinca com as imagens criando uma relação entre o contexto real e o imaginário, e assim por diante. Para a criação das videodanças, partimos da provocação de três frases de ação: tirar(am) meus pés, tirar(am) meu coração, tirar(am) minha respiração. Condições percebidas no nosso cotidiano em que o direito de ir e vir está abalado, em que as afeições estão corrompidas e que nossa sobrevivência está ameaçada pelo próprio comportamento do humano.

Reentrâncias é uma dança que depende do movimento do público para poder acontecer. Para trilhar, basta fazer o download do aplicativo Trilhas Poéticas gratuitamente no google play.

A realização de Reentrâncias no Rio de Janeiro conta com a colaboração local do Núcleo de Pesquisa, Estudos e Encontros em Dança da UFRJ.

Concepção e Direção Geral: Ivani Santana \\\ Dançarinos: Danilo Lima, Priscila Ginna Jörge, Victoria Dourado \\\ Performer: Lucas Lago \\\ Imagens: Giovani Rufino, Lais Moura, Maria Carolina \\\ Edição de vídeo: Aluska Sampaio e Marcelo Delfino \\\ Edição de vídeo e finalização: Maria Carolina \\\ Captação e edição de áudio: Danilo Silva \\\ Design: Giovani Rufino \\\ Gestão: Cardim Projetos e Soluções integradas \\\ Produção: Grupo de Pesquisa Poéticas Tecnológicas: corpoaudiovisual \\\ Colaboração local – Rio de Janeiro: Núcleo de Pesquisa, Estudos e Encontros em Dança da UFRJ \\\ Apoio: Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas – UFBA, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos – UFBA \\\ Agradecimentos: Kiko Barretto, Setor de Transportes/UFBA, Mercado do Hulk Itacimirim, Lulu Pugliese, Carlos Eduardo Oliveira, Lúcia Matos, Fernanda M.C. Ferraz, AméliaV. S. Conrado, Ramon Coutinho.

 

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Sobre a artista pesquisadora

Ivani Santana| Brasil
Ivani Santana é Mestre (2000) e Doutora (2003) em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Pós Doutorado pelo Sonic Arts Research Center, Reino Unido. Vice-coordenadora do Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas e professora do Instituto de Humanidades Artes e Ciências Prof. Milton Santos (UFBA). É líder do Grupo de Pesquisa Poéticas Tecnológicas: Corpoaudiovisual. Desde a década de 90 pesquisa a relação da dança com as novas tecnologias. Autora dos livros: Corpo Aberto: Cunningham, Dança e Novas Tecnologias (2002) e Dança Na Cultura Digital (2006). Nível 1D em Produtividade em Pesquisa (CNPq). Mais info: ivanisantana.net.